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terça-feira, 6 de abril de 2010

Destino?


Todo ser humano necessita despertar desejo. Quando as pessoas nos olham e não nos diferenciam de uma cadeira, a coisa vai mal. Isso acontece muito naquela instituição, como é mesmo o nome? Casamento. Os dois seguem se amando, mas já estão há tanto tempo juntos que não faz mais diferença se a mulher embarangou ou se o marido perdeu os dois dentes da frente: "amo você de qualquer jeito, bem". Ama, sem dúvida. Mas não nos enxerga mais. É aí que mora o perigo. Homens e mulheres precisam de um espelho que lhes diga constantemente o quanto são interessantes e atraentes. Se o espelho rachou em casa e não reflete mais nada, das duas uma: ou a gente se entrega ao desleixo, ou vai buscar reflexos de si mesmo em outro alguém...

E aí você acha que é coisa do destino. Sim, o destino, aquele desgraçado que só te arruma confusão. Esse mesmo que vive aprontando com você, te metendo em enrascadas homéricas. Afinal, que outra força do universo colocaria você naquela situação tão inusitada, depois daquilo que tinha tudo pra ser o dia mais fracassado do ano? Coisa do “destino” e da sua cabeça maluca que acha que a vida é um filme de comédia romântica.

O “destino” glamouriza tudo. Um término de namoro, um começo, um recomeço. Seu ex-namorado te liga bem no dia que você saiu com aquele cara incrível - e foi uma merda. Aí, você acredita que é um sinal, que era pra ser assim, que aquilo foi um plano traçado por Deus ou pelos deuses ou por qualquer outra força superior que não depende da sua intervenção. A verdade é que nós, mulheres, somos seres carentes. Precisamos, o tempo todo, de sinais divinos, de finais felizes, de príncipes encantados. Enxergamos príncipes em sapos. Descobrimos o amor das nossas vidas com uma semana de namoro. Nos apaixonamos no segundo encontro (ou até mesmo antes do primeiro). Acreditamos em amor à primeira vista.

Usamos o “destino” como um calmante. Era pra ser assim. Você fala pra si mesma no dia que tomou o maior e mais dolorido pé na bunda de todos os tempos. Não era pra ser. Não era pra você namorar aquele imbecil. Era pra você sair com aquele lindo tudo de bom. Inventamos o “destino” pra justificar todas as coisas que acontecem que não dependem da nossa vontade. Chamamos isso de destino pra podermos seguir em frente sem mágoas e mais confiantes. Como se tudo de bom ou de ruim que acontecesse fosse pro nosso bem. Como se não fôssemos livres pra intervir e mudar o rumo das coisas. Excluímos de nós toda culpa, mas também todo mérito. Eliminamos o acaso da nossa vida. Não acreditamos em coincidências. Tudo era pra ser. Um plano traçado imutável.

E você vive sua vida esperando que o destino te arrume um bom plano pra seguir, espera que o sapo vire príncipe (mas só o contrário acontece), espera conhecer um cara bacana quando precisa de uma informação pra pegar um táxi numa rua deserta as onze da noite. Espera que esse cara te convide pra subir e que ele seja tão bacana quanto parece à primeira vista. Você espera que ele seja lindo e macio e gentil e um fofo. Você espera que ele te convide pra passar a noite ainda que você não aceite só pra não pegar mal. Você espera que você goste tanto quanto ele ou que ele goste um pouquinho mais. Você espera que todas as suas percepções façam jus à realidade. Você espera que isso seja mesmo coisa do destino. E que o destino (esse ingrato!) não esteja de novo te pregando uma peça.


(Martha Medeiros)

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